Jornal O Povo – Coluna Saudosismo, 9 de julho de 1988
"OS EMBALOS DA DÉCADA DE 60"
João Ribeiro da Silva Neto - Livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999).
"No final dos Anos 60, dois grupos musicais eletrizavam a juventude cearense com suas participações nas festas que animavam os mais variados locais. Eram Os Faraós e o Conjunto Big Brasa, que em suas exibições, além dos sucessos da época, tinham como base um repertório pautado nas composições dos Renato e seus Blue Caps, The Beatles e Rolling Stones. Após duas décadas dessa efervescência alguns ex-integrantes dos conjuntos voltam a tocar e a cantar juntos, na perspectiva de relembrar momentos dançantes passados e atuais. A primeira de uma série que se intitula “20 Anos de Embalo” vai acontecer dia 9 de julho de 1988, a partir das 23 horas, no Balneário Clube de Messejana, organizada pelo Conjunto Big Brasa. Quanto à escolha da agremiação que se encontra às margens da Lagoa de Messejana, distrito de Fortaleza, se deve ao fato do Big Brasa ter “nascido” por lá. Decidi voltar a nos apresentar no local onde começamos. A origem do grupo foi Messejana. Nada como voltar às raízes, disse “Beiró”, o guitarrista e fundador do Big Brasa, João Ribeiro, atual tecladista do grupo Os Faraós e que nos Anos 60 era o guitarrista-solo do Big Brasa. O Big Brasa se exibiu com conjunto durante 67 a 77, tempo que atuou em clubes no Ceará. Piauí e Maranhão, além de ser o responsável pelo acompanhamento musical dos calouros e profissionais que se apresentavam no Show do Mercantil, e no Studio 2, programas televisivos da extinta TV Ceará, Canal 2. “Foi uma experiência bem vivida. Tocávamos com todos os artistas que se exibiam no programa do Augusto Borges. Eu fazia a seleção dos calouros. Por meu próprio crivo passaram entre outros, Mardônio, Maria Zenaide e as irmãs Leda e Lena. Esta última se tornou depois a Miss Lene. Acompanhamos muitas vezes o Jorge Mello, o Belchior e o Ednardo, com quem chegamos até a defender uma música (Beira-Mar) num festival em Recife”, relembrou saudoso João Ribeiro, o “Beiró”. O Conjunto Big Brasa foi extinto porque alguns de seus integrantes eram também estudantes universitários e foram se formando e abandonando a carreira artística. Foi então que João Ribeiro (Beiró) se uniu aos Faraós, com quem tocou teclados até o final de 1977.
JOÃO RIBEIRO (BEIRÓ) COMENTA SOBRE AS MÚSICAS
Fazendo um breve comentário sobre as músicas das duas épocas João Ribeiro (Beiró), - foto ao lado - traça seu paralelo: “Hoje em dia falta melodias nas músicas. São brutas, onde a harmonia não é muito lapidada. Isso não existia nas músicas do Renato e Seus Blue Caps e nas dos Beatles nem se fala. Eles usavam mais romantismo e trabalhavam os arranjos. O Legião Urbana tem um som pesado que não tem a harmonia nem melodia como as de antigamente. É só um cara falando. Antigamente era o lirismo e agora é mais sentimento político e discurso através da letra. O instrumental vem em segundo plano.” Nos “20 Anos de Embalo” que inclusive tem seus ingressos limitados, participarão várias pessoas que viveram intensamente nos palcos, a época da Jovem Guarda. Entre eles Edson Girão (voz e guitarra), Antonio Magalhães (bateria), Vicente (vocalista), Sebastião Magalhães (vocalista e contrabaixista), Roberto Carioca (cantor), Rinah e Laury (cantoras). Sobre o show, Beiró (João Ribeiro) finaliza: “Quando começamos a divulgar os 20 Anos de Embalo muita gente gostou. A repercussão foi grande, tanto que, para evitar uma superlotação os ingressos são limitados. Na parte musical, primeiramente tocaremos uma hora de sucessos atuais. Depois a última formação dos Faraós tocará Beatles e Rolling Stones e muito rock. No final o restante do pessoal executará somente anos 60”.
"20 ANOS DE EMBALO" (realizado no dia 9 de julho de 1988)
A nota do Jornal O Povo finaliza:
Baile com os grupos Big Brasa e Os Faraós, que fizeram muito sucesso nas décadas de 60 e 70 em Fortaleza voltam a se apresentar em público. No repertório músicas dos Anos 60, Jovem Guarda, Beatles, Rolling Stones e canções atuais. Hoje a partir das 23 horas no Balneário Clube de Messejana.
“BIG BRASA - A Crônica dos Anos Dourados”
João Ribeiro da Silva Neto - Livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999).
Foi o título da Coluna Entre Aspas, (Caderno C) do dia 10 de setembro de 1998, publicada no Jornal Tribuna do Ceará, que trás a capa de meu livro O Big Brasa e Minha Vida Musical em página inteira, cujo exemplar guardo até hoje e que vou transcrever a seguir para os amigos do grupo, na íntegra, sem tirar nem colocar uma vírgula sequer. (Como a matéria está em uma página completa tentaremos “escanear” parte por parte depois:
A Crônica "Os Embalos da década de 60"
“Livro a ser lançado na primeira quinzena de janeiro fala de um grupo cearense que representou os tempos áureos da Jovem Guarda”. Em 1967 Fortaleza era uma sociedade ainda com sabor provinciano, com apenas um canal de televisão em preto e branco, e a música de Jovem Guarda detonando nas emissoras de rádio e nos corações. A cidade era cheia de conjuntos de música jovem chamada yê-yê-yê,, que era justamente o som que os Beatles, o Rolling Stones e Cia Ltda. faziam pelo mundo afora. Em Messejana, o jovem João Ribeiro da Silva Neto, então com 15 anos, exibia orgulhosamente sua primeira guitarra elétrica para os amigos, uma novidade naqueles tempos inocentes e fundava uma bandinha com o nome adequado para a época: Big Brasa. Com equipamentos primitivos para o dia de hoje, mas eficientes para aqueles anos inocentes, o grupo passou a tocar bailes, levando o som de Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Beatles e Stones, para os circunspectos clubes sociais, escandalizando os diretores com suas músicas consideradas barulhentas em contrapartida com os boleros e mambos de então.
O livro “O Big Brasa e Minha Vida Musical – Anos Dourados”, de João Ribeiro da Silva Neto, com 154 páginas, fala de sua experiência pessoal como músico de música pop dos Anos 60, mas abrange também uma época considerada exuberante na história local e do mundo, principalmente na área musical. O mais curioso do livro é a participação de um senhor de 50 anos, o contador Alberto Ribeiro da Silva, no projeto que envolvia adolescentes e suas travessuras, o que dá um choque de gerações tão comum nos Anos 60. Mesmo mantendo uma linha de autodepoimento, o livro passeia pelos fatos inocentes do período, numa linguagem simples, e até coloquial como um bate-papo. A realidade musical da época, que com várias bandas do estilo fazendo a cabeça do pessoal e invadindo a seriedade dos clubes, se faz presente de maneira leve e indireta. O esquema era interessante. Na medida em que os grupos evoluíam em termos de volume de som e equipamentos, os diretores de clubes ficavam escandalizados com a barulheira infernal para seu gosto, enquanto o som e os costumes evoluíam. O Conjunto Big Brasa tipifica essa mutação comportamental interessante, a partir do instante em que jovens da classe média urbana faziam sua revoluçãozinha de maneira inocente em um palco, tocando para as pessoas dançares, enquanto as cabeças mudavam. Vale lembrar que entre 1967 e 1977, período de vigência do Big Brasa, Fortaleza dispunha de pouquíssimas, elitizadas e tímidas boates, e o escoamento jovem ia para os clubes, condensando a onda toda. As letras românticas e inocentes, a ausência de drogas, e as guitarras e amplificadores de baixa potência, quase sem efeitos, era a receita da felicidade dos anos dourados. Haja vista que, quando o Conjunto Big Brasa começou a usar os primeiros pedais de efeitos, numa marca de pioneirismo, causou sensação entre a moçada. O livro de João Ribeiro trata de tudo isso, com a leveza de um bate-papo carinhoso e nostálgico.
Por Luiz Antonio Alencar, editor do “Entre Aspas”
“A VOLTA DOS ANOS 60 COM BEATLES E ROLLING STONES”
João Ribeiro da Silva Neto - Livro "O Big Brasa e minha vida musical" (1999).
Tribuna do Ceará, 08 de julho de 1988 (transcrição na íntegra). Dizia a nota: “Amanhã, a partir de 22 horas, no Balneário Clube de Messejana, os Conjuntos Big Brasa, Os Faraós, estarão revivendo a saga roqueira dos Anos 60, executando sucessos dos Beatles e dos Rolling Stones. Com sintetizadores DX-7, Poly-800 e Yamaha e guitarra Gibson, apenas o que há de mais atual, João Ribeiro (guitarra e teclados), Luciano Franco (contrabaixo), Luiz Duarte (bateria), Edson Girão (cantor), Laury, (cantora), farão Big Brasa. Luisinho Magalhães (guitarra), Sebastião (baixo) e Antônio Magalhães (bateria) e Vicente guitarra) farão Os Faraós, com uma participação de Luiz Antonio, cantando alguns rocks pauleira. “I Was twenty years ago today Sargent Peppers taught the band to play” (Foi há vinte anos atrás que Sargento Pimenta ensinou sua banda a tocar). Com essa frase os Beatles lançavam em abril de 1967 o seu sétimo álbum e 0 mais controvertido LP. Na Inglaterra o Sargent Peppers Loney Hearts Blub Band. Com toda uma revolução sonora e poética.
EM MESSEJANA SURGIU O CONJUNTO BIG BRASA
Em Messejana surgiu no mesmo mês de um grupo de jovens apaixonados por toda a exuberante enxurradas das inovações da época, o Conjunto Musical Big Brasa, bem inscrito nos padrões vigentes da Jovem Guarda, João Ribeiro (Beiró), Carlomagno (Carló), João Dummar Filho, Marcos Oriá e Severino Tavares, usando equipamentos feitos aqui mesmo pela banda Os Rataplans, com caixinhas de som primitivas de seis watts, resolveram inaugurar no Ceará a tal estrada do rock, hoje tão difundida em outros grupos. Tendo como prefixo “And I Love Her”, O Conjunto Big Brasa logo passou a introduzir inovações no cenário musical local, que eram privilégios dos grandes centros. Em um curioso paralelismo, as bandas pioneiras de Heavy Metal, como Rolling Stones, Jimmy Hendrix, Experience, Cream, com o Eric Clapton, introduziam efeitos como a distorção, obrigatória em toda banda metaleira, o wah-wah, e outros recursos, e o Big Brasa não deixava barato: os adotava em seus bailes para consternação dos mais velhos com ouvidos “nelsonçonçalveanos”, para excitação da moçada.
UM COROA MUITO DOIDO
Apesar de João Ribeiro (o guitarrista-solo Beiró) ser o fundador do Big Brasa, o mais interessante era que o mentor de toda a história era um senhor de quase cinquenta anos, maçom, contador da Ceará Motor na época, de nome Alberto Ribeiro da Silva, que além de dar uma força e orientação na moçada, mandando “sentar o pau no rock”, ainda se deslumbrava com os sucessos dos Beatles, como Help. Hello Good Bye, Boys ou então a pauleira dos Stones, como Satisfaction, Jumpin Jack Flash, e Under My Thumb, esta última sua predileta. Com um vigor de fazer inveja a muito gatão de hoje em dia, ele se entusiasmava quando o rock fervia no palco incentivando-o como um regente roqueiro de cabeça feita. E exigia que a turma abrisse o gás, o que a garotada cumpria com muito gosto. Pode-se dizer que este avançado senhor, eternamente jovem, foi uma das peças incentivadoras do rock aqui no Ceará, quando ainda era uma coisa muito revolucionária, e pasmem: ainda chama seus amigos e companheiros de geração que torciam o nariz ante a barulheira de seus pupilos de “caretas e quadrados” e os espinafrava com uma irreverência de fazer inveja ao próprio John Lennon. Nem é preciso dizer que os componentes do Big Brasa adoravam o “Mestre Alberto”, como era carinhosamente chamado. Ele nos deixou em abril de 2001 mas sempre estará vivo na memória de todos que o conheceram e admiraram. Em 1988, no auge do movimento hippie, o Big Brasa aumentou a tonelagem sonora com equipamentos avançadíssimos para a época e músicos como o “Peninha”, Lucius Maia, Adalberto Pereira Lima, Edson Girão, Luciano Franco, Edir Bessa, João “Lennon”, Lurdinha, passaram a compor o revezamento e dinâmico plantel do Big Brasa, que inclusive acompanhou e fez arranjos para os primeiros shows do cantor e compositor Ednardo, e inspirou em primeira instância, o guitarrista Manasses, um dos melhores do mundo, mas que na época assistia aos solos do João Ribeiro (Beiró) no Maranguape Clube, com um brilho de admiração no olhar. Após anos ligado ao Programa Studio 2 e ao Show do Mercantil, da extinta TV Ceará, Canal 2, o Big Brasa debandou em 1977.
Nota: o Mestre Alberto Ribeiro nos deixou em 2001 (in memoriam).
Notas da Imprensa
@2016 - Página Oficial do Conjunto Musical Big Brasa, de Fortaleza, Ceará